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Com recorde de operações em um ano, oferta de ações gaúchas na bolsa movimenta R$ 4,38 bilhões

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Fonte: ZH

Com recorde de operações em um ano, oferta de ações gaúchas na bolsa movimenta R$ 4,38 bilhões

Em 2020, RS tem duas empresas que abriram capital e duas que emitiram novos papéis

14/10/2020 - 16h35minAtualizada em 14/10/2020 - 19h10min

 

FERNANDO SOARES

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Reprodução / B3IPO da Quero-Quero foi o quarto maior do país, no anoReprodução / B3

Após longo tempo sem ofertarem novas ações na bolsa de valores de São Paulo, a B3, empresas do Rio Grande do Sul voltaram a recorrer ao mercado de capitais para captar recursos. Em 2020, até o momento, o Estado contabiliza duas ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) e duas ofertas subsequentes (conhecidas no jargão do mercado como follow-on). O número em um ano é recorde, segundo as estatísticas da B3. Ao todo, as operações movimentaram R$ 4,38 bilhões, com R$ 1,78 bilhão indo diretamente aos caixas das quatro companhias para financiar planos de expansão.  

Quando realiza o IPO, a companhia abre o capital e passa a permitir que qualquer investidor vire sócio do negócio a partir da compra de ações nos pregões. É o que aconteceu com a rede varejista Quero-Quero e a construtora Melnick, as duas gaúchas que compõem a lista de 20 IPOs realizados na B3 neste ano. Desde 2012, quando a fabricante de móveis Unicasa realizou esse tipo de operação, uma companhia do Estado não estreava na bolsa brasileira. 

 

Entre todos os IPOs feitos no país, o da Quero-Quero foi o quarto maior no ano, movimentando R$ 2,23 bilhões em agosto. Desse montante, R$ 279,8 milhões correspondem à oferta primária. Ou seja, são recursos oriundos da venda de novas ações emitidas e que tem como destino o caixa da empresa. Outros R$ 1,95 bilhão vieram de oferta secundária, quando ocorre a negociação de papéis que pertenciam aos acionistas da companhia. Esse valor acabou embolsado pelo fundo de private equity Advent, que detinha o controle da rede. Com isso, o fundo saiu da gestão da companhia, que agora tem o capital totalmente pulverizado.   

— A maior parte do recurso captado foi para permitir a saída do fundo, e a parte que entrou pela oferta primária pretendemos utilizar para ampliar a estrutura de centros de distribuição (um no Paraná e outro ainda a ser definido) e para capital de giro — destaca Peter Furukawa, diretor-executivo da Quero-Quero.   

A segunda gaúcha a abrir capital em 2020 foi a Melnick, que movimentou R$ 713,6 milhões na operação feita em setembro. Desse volume, cerca de R$ 620 milhões irrigaram o caixa da incorporadora. Em documentos protocolados nos órgãos reguladores do mercado, a companhia sinalizou que pretende investir o montante, principalmente, na aquisição de novos terrenos voltados à construção de empreendimentos de alto padrão.   

O Rio Grande do Sul também registra duas ofertas subsequentes de ações, mais conhecidas no mercado como follow-on. No país, foram 21 até 13 de outubro. A última gaúcha a ter recorrido a esse expediente tinha sido a fabricante de autopeças Fras-le, em 2016.  

Esse tipo de operação é realizada quando a empresa já tem capital aberto na bolsa de valores e decide inserir novas ações no mercado. Os valores arrecadados vão para o caixa da companhia, no caso de oferta primária. Nesta operação também é possível haver oferta secundária, quando um acionista com participação relevante na empresa vende os seus papéis e embolsa o valor da transação.  

Por meio de follow-on, o Grupo Dimed, controlador da rede de farmácias Panvel, movimentou R$ 1,04 bilhão. Desse total, R$ 480 milhões ingressaram nos cofres da companhia e servirão para viabilizar projetos de expansão nos próximos cinco anos. Entre as prioridades estão a expansão da rede de lojas físicas na Região Sul, passando das atuais 450 para 800 unidades, a construção de novos centros distribuição e melhorias na estrutura voltada ao e-commerce em São Paulo.  

O diretor presidente do Grupo Dimed, Julio Mottin Neto, explica que a operação foi viabilizada em um curto espaço de tempo, de cerca de 45 dias entre o início e a conclusão em julho. Inserido em um setor essencial, que não teve atividades interrompidas durante a pandemia, o controlador da Panvel avaliou que a operação possibilitaria uma injeção de recursos com condições mais atrativas em relação a outras fontes, como empréstimos bancários.  

— Para a empresa foi vantajoso porque conseguimos um valor de mercado muito bom. Além disso, no Brasil, o cenário econômico muda com rapidez, o que nos faz ter cautela. Se hoje o juro está baixo, daqui a pouco pode aumentar. Não sabemos quanto tempo vai durar esse cenário — pondera o executivo.   

A Irani, que fabrica papéis para embalagens e papelão ondulado, também optou pela oferta subsequente de ações para captar recursos. A indústria gaúcha levantou R$ 405 milhões em julho, que acabaram direcionados integralmente ao caixa e financiarão o plano de expansão nos próximos anos.  

Recorde de operações gaúchas em 16 anos 

As quatro operações de oferta de ações realizadas já realizadas por empresas gaúchas em 2020 representam um recorde. Conforme os registros de IPOs e follow-ons computados desde 2004 pela bolsa de valores de São Paulo, a B3, nunca o Rio Grande do Sul teve tantas emissões de papéis realizadas em um mesmo ano.  

O analista-chefe da Geral Asset, Carlos Müller, avalia que as ofertas de companhias gaúchas no ano foram bem-sucedidas.  

— O empresário gaúcho costuma ser um pouco conservador em relação à entrada na bolsa, mas os movimentos que vem sendo feitos me pareceram assertivos — constata.  

No caso de Dimed e Irani, que realizaram ofertas subsequentes de ações, a disponibilização de novos papéis garante maior liquidez, lembra Müller. Em suma, a negociação dos ativos ganhou maior volume nos pregões e, por isso, as companhias passam a ser mais atrativas aos investidores.  

Entre as estreantes na bolsa, o analista destaca que o movimento da Quero-Quero já era esperado há anos pelo mercado. Em tamanho, o IPO da rede varejista gaúcha foi o quarto maior do país. Na frente estão Petz e Hidrovias do Brasil, que movimentaram mais de R$ 3 bilhões, e o Grupo Mateus, que levantou R$ 4,6 bilhões. 

 

Número de IPOs no país é o maior desde 2007  

O ano ainda não terminou, mas 2020 já se consolida como um dos períodos com maior quantidade de ofertas públicas de ações (IPOs) na história da bolsa de valores de São Paulo, a B3. Desde janeiro, 20 empresas brasileiras abriram capital, o equivalente à soma de todas as operações realizadas entre 2015 e 2019. Desde 2007, o país não tinha tantas empresas recorrendo ao mercado de capitais em uma temporada. Na ocasião, a B3 registrou a estreia de 64 companhias em pregão.  

A queda da taxa básica de juro, a Selic, ao menor patamar da história em meio à pandemia de coronavírus é um dos fatores que explica a aceleração no número de empresas optando pela abertura de capital em 2020. Com a Selic atualmente em 2% ao ano, as aplicações de renda fixa perdem rentabilidade. Assim, o investidor se mostra disposto a aumentar a exposição ao risco e intensifica o foco em alternativas que tenham perspectiva de maior rentabilidade, como o mercado acionário. Atentas à maior demanda na renda variável, as companhias buscam se beneficiar deste movimento para captar recursos.   

— Os investidores têm procurado diversificar seus portfólios e estão buscando cada vez mais ativos diferentes. Sem dúvida, a taxa de juro foi um fator que transformou o cenário, tornando-o mais interessante para as companhias acessarem o mercado — salienta Leonardo Resende, gerente de Relacionamento com Empresas da B3.  

Neste contexto, Resende lembra que, nos últimos dois anos, o número de investidores pessoas físicas na bolsa de valores brasileira mais do que triplicou. De dezembro de 2018 a setembro de 2020, o número de CPFs registrados na B3 passou de 813,2 mil para 3,06 milhões. Atualmente, o Rio Grande do Sul é o quinto Estado com mais investidores: 171,5 mil.   

Economista e especialista em avaliação de empresas, Giácomo Diniz lembra que, com a queda recente na demanda provocada pela crise do coronavírus e o cenário recessivo, a realização de IPOs e follow-ons possibilita que as empresas injetem recursos em caixa para financiar seus projetos sem aumentar o endividamento.   

— O foco primordial desse tipo de captação é investimento. As empresas estão entendendo que têm potencial efetivo de crescimento, por isso estão captando dinheiro pela emissão de ações — afirma.  

No entanto, a maré ficou menos favorável às ofertas de ações nas últimas semanas, na avaliação de Diniz. As incertezas políticas e as dúvidas que pairam sobre o comprometimento do governo Jair Bolsonaro com o cumprimento do teto de gastos vêm azedando o humor dos investidores. Isso tem trazido maior volatilidade ao mercado de ações e pode fazer com que as empresas esperem um momento menos agitado para abrir capital ou disponibilizar novas ações.   

 

Planos alterados  

Omar Freitas / Agencia RBSAbertura de capital da Corsan deve ficar para 2021Omar Freitas / Agencia RBS

A lista de empresas na fila para realizar a oferta pública inicial (IPO) de ações na B3 não tem nenhuma gaúcha prevista neste momento. Ainda assim, algumas companhias vêm discutindo a possibilidade de abrir capital nos próximos anos. O caso mais emblemático é o da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), estatal que pretendia realizar a operação em 2020. Agora, a meta é estrear na bolsa de valores em 2021.  

— Alguns fatos acabaram inviabilizando o IPO neste ano. O novo marco do saneamento básico trouxe uma série de componentes, que têm de ser considerados. E a própria pandemia também afetou nossos planos. Acreditamos que no ano que vem será possível — diz Artur Lemos Júnior, secretário estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura.   

O secretário aponta que a empresa ainda precisa passar por modificações estruturais internas antes de protocolar o pedido de registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o primeiro passo para iniciar o processo de abertura de capital. Entre os procedimentos que deverão ser realizados está a mudança no estatuto. Mesmo com a concretização da venda das ações, o governo do Estado deverá manter o controle da companhia.   

Outra empresa com raízes no Rio Grande do Sul que recentemente cogitou a abertura de capital na B3 foi a Agibank. A instituição financeira esteve perto de realizar o IPO em 2018, mas desistiu por considerar o cenário pouco favorável naquele momento. O ano ficou marcado pela greve dos caminhoneiros e as eleições presidenciais, que acentuaram oscilações no mercado financeiro e desestimularam a realização da oferta dos papéis.   

Por ora, o Agibank não pretende retomar o processo de IPO. Em setembro, o banco digital recebeu aporte de R$ 400 milhões da gestora de fundos de private equity Vinci Partners. O valor será utilizado para conduzir projetos de expansão e reforçar a governança.  

— Foi uma injeção de capital importante, que levará o banco a outro patamar. Não temos planos de IPO no momento e vamos ser bastante agnósticos em relação a isso — aponta Thiago Souza, diretor financeiro e de relação com investidores do Agibank.  

Entenda as operações

 

Oferta pública inicial (IPO)  

  • Quando uma empresa tem capital fechado e decide vender parte do seu negócio para investidores na bolsa de valores, ela realiza uma oferta pública inicial (IPO, Initial Public Offering em inglês) 
  • No Brasil, esse tipo de operação é realizado na bolsa de valores de São Paulo, a B3. No entanto, empresas brasileiras também podem abrir capital em bolsas estrangeiras, como as norte-americanas Nasdaq e Nyse 
  • O IPO marca a primeira venda de ações de uma empresa no mercado e, posteriormente, dá início à negociação dos papéis nos pregões da bolsa de valores 
  • Após a abertura de capital, qualquer investidor registrado em uma corretora e que opere na bolsa de valores pode comprar ou vender as ações da empresa 
  • O principal fator que leva empresas a abrirem o capital é a possibilidade de captar recursos para financiar suas atividades e planos de expansão, sem ter de aumentar seu endividamento. Isso ocorre porque nos IPOs a maior parte do dinheiro arrecadado costuma ir direto para o caixa da empresa

Oferta subsequente (follow-on)  

  • Quando uma empresa já tem capital aberto na bolsa de valores, mas decide colocar mais ações no mercado, ela realiza uma oferta subsequente, conhecida no jargão do mercado como follow-on 
  • Ao contrário da oferta pública inicial, que é aberta a qualquer investidor na bolsa de valores interessado em comprar as ações, o follow-on pode ser restrito aos chamados investidores qualificados (fundos de investimento e pessoas físicas e jurídicas com mais de R$ 1 milhão aplicados) 
  • Com o follow-on, as empresas também podem captar recursos para financiar suas atividades e planos de expansão, sem aumentar o endividamento 
  • O expediente também pode ser utilizado com intuito de alterar a composição acionária da empresa. Alguém que tenha fatia relevante das ações, por exemplo, pode vender os papéis no mercado para sair da sociedade ou diminuir sua participação no negócio 

Distribuição 

  • Tanto no IPO quanto no follow-on, a distribuição da oferta pode ser primária ou secundária. A oferta também pode ser primária e secundária simultaneamente 
  • A oferta primária ocorre quando são emitidas novas ações e os recursos obtidos com a venda vão diretamente para o caixa da empresa 
  • A oferta secundária ocorre quando as ações disponibilizadas ao mercado já existiam e pertenciam a um acionista relevante na empresa. Neste caso, o dinheiro obtido na venda vai para o acionista que detinha o papel 

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